segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Isso é Minas!

     Ah, as Minas Gerais!
     O bairro é calmo e não completamente invadido por prédios. Muitas casas ainda, daquelas de família mineira, com varanda que antes dava pra calçada e onde "as gentes" sentavam e olhavam o movimento, mas onde hoje tem muro que atrapalha, com portões altos que dão a ilusão de segurança.
     Passeava com a cachorra e passei por um desses portões altos e na fechadura, pelo lado de fora, vi uma chave pendurada. Cheguei perto pra ter certeza e resolvi bater a campainha. Ninguém atendeu. Insisti, tocando outra vez. Ninguém respondeu. Atravessei a rua em direção ao salão de beleza em frente à casa... quem sabe ali não conhecessem os donos da casa e pudessem guardar a chave?
     Ainda não havia chegado na outra calçada, quando ouvi o portão se abrindo. Voltei-me  para o portão e sorri. A senhora do lado de dentro olhou meio sem entender.
     - Desculpe incomodar, mas é que vi essa chave (e apontei) aí do lado de fora do portão e achei que seria melhor avisar.
     A senhorinha olhou com olhar desentendido:
     - Mas como assim? Eu não entendo porque essa chave está aqui. O que será que aconteceu? Por que minha irmã não pegou a chave e nem trancou o portão?
     - Pois é, às vezes a gente esquece mesmo! Resolvi avisar porque já aconteceu comigo algumas vezes e sei a aflição que dá.
     - É até perigoso, né? Como você se chama?
     - Maria.
     - E eu me chamo Lúcia!
     - Olá, D. Lúcia!
     - Você é daqui mesmo?
     - Mais ou menos. Moro aqui há 4 anos.
     - Eu morei a vida toda aqui. Me casei e vim pra cá. Criei meus filhos e meus netos nessas ruas aqui.
     - É um bairro gostoso, né?
     - Eu gosto. Minha irmã mora aqui nessa casa. Depois que a gente envelhece é muito bom ter a família por perto. Minha outra irmã mora em Carangola. A gente se vê só de vez em quando.
     - Que bom que uma das irmãs mora pertinho, né?
     - É um pulinho da minha casa! Bom demais!
     Um momento de silêncio, ajeito na mão a coleira da cachorra, olho pra D. Lúcia e faço menção de me despedir pra continuar a caminhada.
     - Maria, Você sabe aquele prédio grande da esquina?
     - Ah! Aquele prédio? Sei... (claro que não sabia!)
     - Pois é, eu moro naquela casa grande ao lado. Aparece lá pra gente tomar um café! Eu gostei de você!
     Sorri:
     - Claro! Apareço sim! Boa tarde, D. Lúcia.
     - Boa tarde, Maria. Deus lhe pague! Muito obrigada pela gentileza!
     Claro que nunca apareci na casa da D. Lúcia pra tomar café, mesmo porque não tenho noção alguma de onde mora D. Lúcia, mas aquele "passa lá pra tomar um café!" me trouxe um enorme aconchego interno.
     Isso é Minas!

Nenhum comentário:

Postar um comentário