quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Dia cinza... coração cinza...

"Dia cinza.. coração cinza...
O Reve se foi...
'O Senhor conduza o coração de vocês ao amor de Deus e à perseverança de Cristo' (2Ts 3.5)
Obrigada pelo seu exemplo de fé, amor e perseverança Reve!
Não estávamos preparados para "te perder", mas a certeza de que nos veremos na glória enche nosso coração de gratidão! Vai lá fazer o céu mais alegre e bonito com seus lindos olhos azuis! Até breve!"

Assim, com essas palavras, comecei hoje o meu dia...
Fui acordada pelo meu marido com a notícia de que o Reve, meu pastor e amigo, havia falecido...
E estou aqui a deglutir a notícia!

Reve é uma dessas raras pessoas que abrilhantam o mundo enquanto por aqui estão. Abrilhantam não no sentido do glamour e popularidade hoje tão perseguidas! Abrilhantam pela integridade e pela Luz que naturalmente emanam! É a Luz com L maiúsculo, a que vem lá do alto, do coração do Criador!
Não sei quantos crêem no que escrevi acima... na "glória", num encontro posterior, eterno após a morte, num "céu" onde viveremos eternamente em paz e sem dores ou lágrimas... 
Eu creio!
E esse homem foi uma dessas pessoas preciosas que ajudou a solidificar essa realidade e a verdade do Amor do Pai, a verdade do Céu no meu coração, na minha vida!
E esse homem foi mais um desses grandes diplomatas do céu, com direito a toda elegância, profundidade e garbo na alma, que o o Pai (no qual eu também creio e pelo qual sou transformada dia após dia!) enviou para representá-lO... e ele o fez com maestria, porque soube, acima de tudo amar a Deus acima de todas as coisas e ao seu próximo, os de longe e os de perto, os conhecidos e os desconhecidos, os importantes e os humildes, os fortes e os fracos, os ricos e os miseráveis, enfim, a cada um que cruzou (ou não) o seu caminho, ele soube amar como a si mesmo, ou até um pouco mais...

Eu creio!
E porque eu creio, há no meu coração, misturado a uma profunda tristeza pela perda de pessoa tão querida e tão especial, uma gratidão profunda e um grande consolo! Consolo porque ele descansou... estava há um mês em coma por causa de uma hemorragia cerebral. Gratidão por muitos, muitos motivos...
Um deles conto agora:
Fui vizinha do Reve por muitos anos. Morávamos num cantinho muito, muito especial em Viçosa.
Eu tinha dois pastores alemães, o Petzi e a Maninha.
Reve vivia brincando comigo porque dizia que eu não podia ser assim tão "zoófila". As pessoas importavam mais que os cachorros!
Eu ria muito e brincava de volta: "Depende, Reve! Depende da pessoa e do cachorro!"
E ele retrucava seu famoso "Ah, meu Pai! Não faça isso Marô!"
(inevitável que as lágrimas não brotem...)
O Reve, na verdade a Júnia, sua filha, tinha, na época, um cachorrinho. Ele vivia no portão lá de casa latindo brava e corajosamente para o Petzi e, podia-se notar a irritação que aquele "naniquinho" causava no meu grandão.
Um dia, fugindo do nosso quintal, Petzi disparou para o quintal do Reve e ficou perseguindo o Pretinho, até conseguir pegá-lo e literalmente, estraçalha-lo! Foi horrível, foi pavoroso tudo aquilo! Meu coração ficou em pedaços! Chorei e fiquei também com muuuuuita vergonha pelo acontecido. Não sabia como pedir desculpas, não sabia como agir...
Fui à cidade, comprei um vasinho de flores e escrevi um cartão, onde expus minha "sem-graceza", meu lamento e dando os pêsames à todos. Peguei as flores e o cartão, vesti minha cara de pau e fui até a casa do Reve falar com ele, tia Deja e Júnia. Só o Reve estava em casa. Ao me ver com as flores, já retrucou de lá: "Marô, o que é isso! Você não precisava trazer flores!". Eu, meio sem saber o que dizer: "Reve, era o mínimo que eu podia fazer pra me desculpar! Não sei o que dizer! Estou muito sem graça e triste com tudo isso!". Ele respondeu: "Não precisa se sentir assim, minha querida! Vê se pode, me desejar pêsames por causa de um cachorrinho! O cachorrinho era da Júnia e sei que ela gostava dele, mas na verdade ele era meio chatinho! Não se preocupe, essas coisas acontecem! O Petzi já está perdoado!"
Claro que, ao ver meu estado, ele optou por se portar com toda essa gentileza e amabilidade! O que, confesso, deu um certo alívio ao meu coração.
Alguns dias mais tarde, enviou-me uma "crônica" que ele havia escrito: "O dia em que Golias matou Davi"... tive que rir! E nunca mais esqueci da singeleza e da prioridade que ele deu ao meu coração doído ao relatar com certa graça todo o acontecido.
Infelizmente não consegui ainda achar a crônica nos meus arquivos, mas quando acontecer, vou publicá-la!
Quem dera eu pudesse deixar um milésimo do legado de fé, amor e perseverança que ele deixa... ou quem dera ser a minha vida um milésimo do exemplo que a dele o é, em todos os sentidos!
Obrigada, Reve! Obrigada por ter sido, por tantos e tantos anos, o Reve!!! Espelho do Amor do Pai!
Quando eu chegar aí, você me mostra se o Pretinho e o Petzi estão caminhando por aí também e se já ficaram amigos! (ouço-o gargalhando e dizendo: "quanta heresia, meu Pai!")
Vá em paz!

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